Outros resultados estão publicados em artigo científico
SÃO CARLOS/SP - Já no decurso dos tratamentos para a redução das
consequências da fibromialgia, iniciados há alguns anos através de protocolos e
tecnologias desenvolvidas no IFSC/USP com base na aplicação de laser e
ultrassom na palma das mãos, os
pesquisadores confrontaram-se com relatos de pacientes que, após esses
tratamentos, mencionaram ter recuperado memórias recentes, situações essas que
se enquadram naquilo que é conhecido como “Fribro Fog” (névoa no cérebro), uma
situação que é nova nos tratamentos fisioterápicos em pacientes com sequelas
pós-Covid. Agora, em artigo científico publicado no “Journal of Novel
Physioterapies”, os pesquisadores do IFSC/USP relatam as pesquisas e os
resultados obtidos com o tratamento de pacientes pós-Covid portadores de
sequelas físicas e respiratórias, inclusive sequelas relativas à perda de memória
recente, diminuição acentuada de ansiedade e depressão, regulação do sono e,
inclusive, a reabilitação de paciente com quadro de Doença Pulmonar Obstrutiva
Crônica (DPOC).
O que é a “Fibro Fog”
“Fibro Fog” - ou névoa do cérebro - é o termo que se utiliza
para um conjunto de situações que geram dificuldades cognitivas e que podem
atingir alguns pacientes com fibromialgia. Os principais sintomas da “Fibro
Fog” caracterizam-se por ansiedade, insônia, falha na memória, cansaço e até
mesmo depressão: exatamente os mesmos sintomas detectados recentemente nos
pacientes com sequelas de Covid-19 que foram voluntários nesta pesquisa e que
recuperaram totalmente após efetuarem os já citados tratamentos. “Nossas
pesquisas não pararam e neste contexto novas tecnologias e metodologias são
desenvolvidas para o tratamento dessas sequelas, muitas vezes com o uso de
protocolos onde se utilizam equipamentos fotônicos, ultrassônicos e de pressão
negativa. Neste trabalho científico, reunimos quatro casos de pacientes com sequelas
pós-Covid das mais variadas origens. Eles foram acompanhados na evolução dos
tratamentos, variando o número de sessões caso a caso. O tratamento realizado
por meio desses recursos não invasivos e não medicamentosos (laser, ultrassom e
pressão negativa) possibilitaram a reabilitação completa desses pacientes,
devolvendo sua qualidade de vida”, relata o Dr. Antonio de Aquino Junior,
pesquisador do IFSC/USP e um dos autores do estudo.
A recuperação da memória recente em pacientes com sequelas
de COVID-19
Após um ano de se terem iniciado os tratamentos pós-COVID na
Unidade de Terapia Fotodinâmica (UTF) - em uma parceria com a Santa Casa da
Misericórdia de São Carlos -, os pesquisadores do IFSC/USP realizaram nesse
período cerca de quatro mil sessões em atendimento a pacientes com sequelas
pós-COVID na área de fisioterapia, bem como aproximadamente quatro mil sessões
em atendimentos na área odontológica (recuperação de paladar e olfato). Porém,
após a infecção, podem aparecer sequelas pós-COVID, muitas vezes persistindo
por mais de doze semanas, de origem sistêmica, como fadiga e astenia,
respiratória, com dispneia e tosse persistente, neuropsiquiátrica, através da
perda de memória, desequilíbrio, anosmia, ageusia e ansiedade e
músculoesquelética - mialgia e dores articulares. Além disso, há relatos do
aparecimento de doenças neurológicas como manifestações secundárias do vírus,
como, por exemplo, encefalopatia, meningite, acidente vascular cerebral,
encefalite, síndrome de Giullian-Barré, dor de cabeça e tonturas, entre outras.
Contudo, o destaque deste estudo vai para a recuperação da
memória recente de um paciente com sequelas pós-Covid, o que poderá abrir
portas para novos cenários, outras doenças que provocam a perda de memória. “O
processo do tratamento, que é indolor e não invasivo e, como no caso da
fibromialgia, utiliza-se o laser e ultrassom como bases principais, carregando
seus efeitos diretamente na pressão intracraniana, gerando um efeito benéfico,
por exemplo, nos circuitos reverberativos neuronais, possibilitando que as
áreas responsáveis pela memória recente voltem ao seu estado normal. Com isso,
também se combatem os estados de ansiedade e depressão, promovendo a qualidade
do sono”, salienta Aquino Júnior. Caso se optasse, nestes casos, por um tratamento
convencional, os pesquisadores estão convictos de que esse processo poderia se
estender por alguns meses. Com este tratamento, os resultados da recuperação
poderão ser alcançados em aproximadamente trinta sessões.
Tratamento de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e
recuperação do olfato e paladar
Outro tratamento bastante importante e cujos resultados
foram igualmente reportados no artigo científico foi a recuperação de uma
paciente portadora de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (POC), que tinha como
agravante o fato de ter sido fumante por décadas, o que a obrigava a estar
dependente de inalação de oxigênio dezoito horas por dia. “Foi realmente
impressionante o tratamento dessa sequela respiratória. Ao longo das sessões, a
paciente começou a estabilizar sua respiração e, no final das sessões, ela não
precisou mais de utilizar a inalação de oxigênio, podendo, dessa forma,
retornar de forma gradual à sua vida ativa, recuperando sua qualidade de vida.
Para os estagiários do IFSC/USP que acompanharam estes
tratamentos - alunos do 3º ano do Curso de Fisioterapia da UNICEP e igualmente
autores do artigo científico - Vanessa Garcia e Tiago Rodrigues “Assistimos e
partilhamos momentos muito importantes nas sessões de tratamento, observamos o
quanto os pacientes estavam ansiosos por suas recuperações e suas reações
quando as melhorias se estabeleciam. Tudo graças a estes novos protocolos e às
novas tecnologias disponibilizadas. Tudo isto está sendo muito importante para nós,
em termos pessoais, e para a nossa formação acadêmica e profissional”, relatam
Vanessa e Tiago.
Finalmente, temos também os resultados fantásticos obtidos
no tratamento de pacientes pós-COVID com sequelas no olfato e paladar. “São
muitas centenas os casos que estamos atendendo de perda de olfato e paladar em
pacientes com sequelas de COVID-19 e a lista de espera já está grande”,
sublinha o Prof. Vitor Hugo Panhóca, pesquisador do IFSC/USP responsável pelos
tratamentos na área odontológica. Para o pesquisador, a resposta ao tratamento tem sido excelente e os índices
de recuperação dos pacientes têm sido muito altos “Continuamos evoluindo em
nossas pesquisas e em nossos estudos. Já iniciamos uma parceria com pesquisadores
do King’s College Hospital, em Londres (Inglaterra), para continuarmos este
caminho de recuperação de olfato e paladar em doentes pós-COVID, sendo que em
breve teremos publicado um novo artigo internacional, o que diante desses
nossos trabalhos, cada vez mais pessoas nos procuram”, finaliza Panhóca.
A Dra. Gabriely Simão, Lais Helena Ferreira, Simone
Aparecida Ferreira e Viviane Brocca de Souza, fazem parte da equipe sob
supervisão do Prof. Dr. Vitor Hugo Panhóca. A cirurgiã-dentista Gabriely Simão
é uma das profissionais que atende os pacientes com alterações de olfato e
paladar, já tendo passado por suas mãos cerca de sessenta pacientes. “Os
resultados têm sido ótimos e a reação das pessoas que aqui são atendidas é de
uma enorme expectativa, de esperança, já que as alterações de olfato e paladar
impactam muito na qualidade de vida das pessoas e não devemos esquecer que
estas alterações correspondem a 73% das sequelas listadas em pacientes
pós-COVID, o que é uma porcentagem muito alta”, enfatiza Gabriely, que a UTF
tem atendido pessoas oriundas de todo o Brasil, como, por exemplo, além do
Estado de São Paulo, Roraima, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Amazonas, Minas
Gerais e Paraná.