BRASÍLIA/DF - Uma ala do PSOL, partido que fez parte da coligação do
presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), defende que a sigla adote uma
postura independente em relação ao novo governo e não ocupe cargos na gestão
federal. A direção nacional vai se reunir no próximo dia 17 para definir os
rumos da legenda a partir de 2023.
De acordo com o deputado federal reeleito Glauber Braga
(PSOL-RJ), pelo indicativo de correntes políticas da sigla que se posicionaram
publicamente, já é possível aferir que o partido terá maioria da direção
nacional para firmar independência em relação à gestão petista.
No entanto, ainda que existam resistências internas na
sigla, a ala pró-Lula tem maioria para formalizar o alinhamento e negocia
espaços no primeiro escalão. Como mostrou o Estadão, Lula não terá oposição à
esquerda pela 1ª vez no Congresso.
Ao Estadão/Broadcast, o presidente do PSOL, Juliano
Medeiros, afirmou que a sigla vai ajudar o presidente eleito a “reconstruir” o
País e garantiu que o deputado federal eleito Guilherme Boulos (PSOL-SP)
“estará na linha de frente”.
“O PSOL vai ajudar Lula a reconstruir o Brasil e Boulos estará
na linha de frente”, disse Juliano à reportagem, que preferiu não dar mais
declarações para não alimentar especulações sobre o tema. Boulos é cotado para
assumir o Ministério das Cidades.
Em nota à imprensa, Boulos seguiu na linha de Medeiros.
“Defendo que o partido participe do novo governo, sem perder sua autonomia,
para ajudar a superar o pesadelo bolsonarista, além de contribuir para puxar a
agenda do país para a esquerda. Quem vai fazer oposição ao Lula é o
bolsonarismo, e não estaremos ao lado deles”, declarou Boulos.
Para Braga, no entanto, a posição independente, sem ocupação
de cargos no Executivo, é mais benéfica ao governo para que a sigla possa fazer
enfrentamento às “chantagens do Centrão”. “Quando você ocupa cargos como base,
você fala para dentro e perde sua capacidade inclusive de fazer esse
enfrentamento com eles para fora”, afirma.
A partir da posição independente, de acordo com o deputado,
a legenda pode manter suas bandeiras levantadas e dar “tratamento eficaz” por
meio de “denúncias permanentes à extrema-direita, à direita neoliberal e aos
partidos que deram sustentação ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PL)”.
Novo governo
Braga nega que a não ocupação de cargos no Executivo possa
enfraquecer a legenda. “Para se fortalecer, o partido tem que manter suas
bandeiras levantadas, tem que manter a relação permanente com movimentos
sociais. Quem está preocupado em ter cargos é o Centrão”, afirmou.
Aliados já durante a campanha
Desde o primeiro turno da eleição presidencial, Boulos fez
campanha a favor de Lula, após o PSOL não lançar um candidato ao Palácio do
Planalto. Com o petista eleito, o deputado federal eleito foi anunciado como
integrante do grupo de Cidades do governo de transição. Questionado sobre a
possibilidade de saída de filiados do partido caso a legenda opte pela
independência em relação ao governo, Medeiros negou, citando Boulos. “Não
existe essa hipótese de saída de pessoas do partido”, disse.
O PSOL formalizou federação com o partido Rede e as siglas
devem caminhar juntas nos próximos quatro anos. Apesar da junção, o PSOL tem
liberdade para aderir, mesmo que isolado, à posição de independência. A
federação elegeu 14 deputados para a próxima legislatura, sendo 12 filiados ao
PSOL.
por Giordanna Neves e Sofia Aguiar / ESTADÃO