Um terremoto de magnitude 7,8 matou mais de 4.300 pessoas na
Turquia e na Síria. Segundo tremor mais forte em um século e mais letal dos
últimos 24 anos, teve seu epicentro registrado em uma área já sensível a
calamidades. Naturais, devido à região com alta concentração de eventos
sísmicos, e humanas, notadamente devido aos agrupamentos de refugiados e
deslocados internos pela guerra civil síria.
O abalo foi registrado na madrugada de segunda-feira (6),
ainda noite de domingo (5) no Brasil. A princípio, vieram os primeiros relatos
de prédios destruídos, já acompanhados pela expectativa de muitas mortes. Estas
foram notificadas às dezenas por autoridades locais. Depois, às centenas e aos
milhares cada novo anúncio
fazia disparar o número de óbitos,
sem contar as vítimas ainda presas nos escombros
e não contabilizadas oficialmente.
Ao menos 2.379 pessoas morreram na Turquia, de acordo com a
agência de desastres turca, no pior evento do tipo no país desde 1939. Já na
Síria, o regime de Bashar al-Assad somou 1.300 mortos até aqui.
Houve, ainda, 700 mortes em áreas controladas por rebeldes,
de acordo com os Capacetes Brancos, grupo formado por voluntários da Defesa
Civil Síria, organização acostumada a realizar resgates de sobreviventes em
edifícios atingidos por ataques aéreos durante a guerra civil que já dura 12
anos no país.
Segundo o governo turco, 14,4 mil pessoas ficaram feridas e
4.748 prédios desabaram. Na Síria, o número de feridos chega a 1.431 nas áreas
controladas pelo regime e a mil em porções dominadas por rebeldes.
O epicentro do sismo foi registrado na região entre as
cidades turcas de Gaziantepe e Kahramanmaras, a uma profundidade de 10 a 24
quilômetros, de acordo com os serviços geológicos dos EUA e da Alemanha. Os
tremores puderam ser sentidos na capital turca, Ancara, no Chipre, no Líbano e
também no Iraque.
Este primeiro tremor já mostrou ao mundo imagens como as
vistas na cidade síria de Jandaris, onde barras de aço e roupas de residentes
se misturavam aos escombros de um prédio em ruínas. Um jovem com a mão
enfaixada disse que 12 famílias viviam no local. Nenhuma havia saído desde o
tremor. Para Abdul Salam al Mahmoud, um sírio de Atareb, o cenário parecia de
apocalipse.
Horas depois do episódio, a mídia estatal ligada ao regime
de Assad informou que novo tremor foi sentido na capital, Damasco, sem fornecer
detalhes sobre a magnitude. Por volta das 8h desta segunda-feira, no horário de
Brasília, um novo sismo de magnitude 7,5 também foi detectado no sudeste da
Turquia.
O terremoto atingiu uma zona remota e pouco desenvolvida da
Turquia, o que agrava o desafio das equipes de emergência. Autoridades
relataram mais de 50 réplicas dos tremores nas primeiras dez horas seguintes ao
sismo inicial e alertaram que outras devem ser registradas durante os próximos
dias.
Imagens nas redes sociais logo mostraram os efeitos
imediatos da tragédia, com o desabamento de construções, resgates dramáticos de
crianças e o trabalho delicado dos socorristas. A transmissão da rede de TV
estatal TRT exibiu moradores saindo às ruas sob neve para avaliar os estragos
em alguns locais como em Damasco, Aleppo e Hama.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, manifestou solidariedade
às vítimas e destacou que os serviços de emergência e resgate atuarão em
conjunto, sob coordenação da Autoridade de Gerenciamento de Desastres e
Emergências. "Esperamos superar esse desastre juntos, o mais rapidamente
possível." Ele declarou luto oficial de sete dias no país pelas vítimas do
terremoto.
A região de Gaziantepe, muito atingida, é um importante
centro industrial da Turquia. Atravessado por grandes falhas geológicas, o país
está entre os mais propensos a tremores no mundo. Em 1999, um sismo de 7,4
sacudiu Izmit, no noroeste, deixando mais de 17 mil mortos e 500 mil
desabrigados.
Em 2011, um tremor de 7,1 na província de Van matou mais de
600 pessoas. Em janeiro de 2020, 40 pessoas morreram depois de um sismo de
magnitude 6,8 na província de Elazing. Meses depois, em novembro, novo episódio
em Esmirna fez quase cem vítimas e provocou um minitsunami que inundou cidades
próximas e provocou danos severos na costa da Grécia.
A Turquia está sobre o encontro de duas placas tectônicas uma espécie de bloco que flutua sobre o
manto, uma das camadas no interior da Terra. As placas podem se mexer, de forma
divergente (movendo-se em direções contrárias), convergente (chocando-se uma
contra a outra) e transformante (movendo-se lateralmente); os dois últimos
movimentos costumam causar terremotos.
Diversos países se prontificaram a enviar ajuda. Em nota, o
Itamaraty manifestou solidariedade às autoridades turcas e sírias e disse que,
por meio da Agência Brasileira de Cooperação, providenciará formas de oferecer
ajuda humanitária para os atingidos. O Ministério das Relações Exteriores disse
ainda que não há, até o momento, notícias de brasileiros mortos ou feridos e
que as embaixadas do Brasil em Ancara e Damasco, assim como o consulado em
Istambul, estão acompanhando os desdobramentos.
O governo de Vladimir Putin, na Rússia, disse que dois
aviões Ilyushin-76, da era soviética, estão com equipes de resgate disponíveis
para voar à Turquia. O russo tem importantes laços com Assad, a quem apoia na
guerra civil síria, e com Erdogan, que flerta entre a Otan, a aliança militar
ocidental, e Moscou.
Na mesma toada, o governo da Ucrânia se prontificou a enviar
"um grande grupo de resgate". O americano Joe Biden disse estar
profundamente entristecido pelo terremoto, e a Casa Branca anunciou o envio de
duas equipes de resgate, com 79 pessoas cada uma, para ajudar Ancara nas buscas
por sobreviventes.
O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, também anunciou o envio de equipes de emergência à Turquia e disse que pretende fazer algo semelhante pela Síria. A União Europeia, por sua vez, afirmou que dez grupos de resgate foram mobilizados de Bulgária, Croácia, República Tcheca, França, Grécia, Holanda, Polônia e Romênia para apoiar os esforços na Turquia.