BRASÍLIA - O Palácio do Planalto montou operação para tentar
conter a repercussão negativa da fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) que, no período em que esteve preso em Curitiba, admitiu que dizia a
procuradores e delegados que só iria “ficar bem quando foder com o Moro”. A
declaração de Lula foi dada um dia antes de a Polícia Federal divulgar que o
senador Sérgio Moro (União-PR) poderia ser alvo de um atentado organizado por
integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Com Lula fora de Brasília para participar de eventos de
entregas de obras, o ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom),
Paulo Pimenta (PT), convocou às pressas uma coletiva de imprensa para declarar
que as tentativas de associar o presidente às ações de grupos criminosos são
“perversas” e “fora de propósito”. Pimenta chamou os jornalistas para
apresentar a versão do governo com apenas 15 minutos de antecedência e foi
acompanhado de ao menos cinco assessores. A reação veio após o governo detectar
que bolsonaristas estavam explorando o episódio nas redes.
Antes de Pimenta vir a público, o ministro da Justiça,
Flávio Dino também fez questão de desvincular a fala de Lula da operação da PF
contra a organização criminosa de São Paulo.
“Tentar, como algumas pessoas estão tentando, estabelecer um
vínculo entre essa declaração e a operação conduzida pela PF é algo
absolutamente fora de propósito e serve evidentemente para a disputa política”,
afirmou Pimenta. “Querer fazer esse vínculo é uma estratégia perversa e mais
uma forma de estabelecer uma relação de questionamento das instituições, que
enfraquece a democracia e que deve ser repudiada”, argumentou o ministro.
Moro está entre os políticos que reagiram à fala de Lula,
assim como têm feito os parlamentares que apoiam o ex-presidente Jair Bolsonaro
(PL). Em entrevista à CNN na última terça-feira, 21, o senador disse temer
risco a seus familiares após a fala de Lula. “Repudio veementemente, acho que o
presidente feriu a liturgia do cargo por utilizar esse palavreado de baixo
calão e simplesmente a gente tem que questionar quando isso é utilizado como
forma de desviar o foco dos fracassos do governo federal”, afirmou.
O ministro da Secom tentou minimizar as declarações de Lula,
alegando ser apenas uma manifestação de quem esteve preso e se sentiu
injustiçado. “A manifestação do presidente Lula foi uma manifestação em que ele
relatou o sentimento de injustiça e indignação. Absolutamente natural e
compreensível que alguém que ficou 580 dias detido numa solitária e que depois
teve todos os seus processos anulados”, argumentou. “Portanto, a manifestação
do presidente Lula tem que ser compreendida dentro do contexto em que ele
relata o momento que ele estava vivendo”, prosseguiu.
O presidente foi condenado por Moro quando ele ainda era
juiz federal na 13ª Vara de Curitiba, então responsável pelos processos da
operação Lava Jato. As decisões do ex-juiz, no entanto, acabaram anuladas pelo
Supremo Tribunal Federal (STF), que o considerou parcial ao julgar Lula e
declarou a Justiça do Paraná incompetente.
por Weslley Galzo / ESTADÃO
Foto: © Fornecido por Estadão