UFSCar recebe inscrições em curso "Jornalismo Feminista e Antirracista"


No Brasil, o racismo - discriminação ou preconceito contra pessoas por causa da cor da pele - e o machismo - comportamento que nega a igualdade entre homens e mulheres - ainda são presentes no dia a dia da sociedade, seja nas relações sociais, seja nas políticas, econômicas, culturais ou interpessoais. Mudanças em prol da igualdade racial e de gênero vêm ocorrendo gradativamente, porém a luta contra essas duas formas de preconceito e violência é uma tarefa complexa, que envolve atuação em diferentes frentes: educação, acesso a cargos de liderança no mercado de trabalho, representatividade na cultura, dentre outras. O papel desempenhado pela mídia e pelo jornalismo como mediadores e construtores das relações sociais, por meios da seleção de situações da realidade que são divulgadas, também é fundamental nessa batalha.
Lucy Oliveira, professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), ressalta que "as questões de gênero e raça atravessam o campo político, sendo que, ainda hoje, há uma divisão sexual e racial do trabalho. No cenário jornalístico, por exemplo, mulheres negras ainda são minoria. É interessante e decepcionante pensar em quantos corpos femininos negros ocupam espaços como o que Glória Maria, por exemplo, ocupou, sendo a única protagonista desta transformação, por muito tempo. Entendemos o jornalismo como construtor e reafirmador da desigualdade ou da igualdade em termos de raça e gênero. E é importante a reflexão para provocar e aprofundar as mudanças por dentro", esclarece.
De acordo com os especialistas, os veículos de comunicação e a sociedade se retroalimentam. Ou seja, o conteúdo divulgado e a forma como é disseminado pelos grandes veículos pode trazer reflexos à sociedade. Para Viviane Gonçalves Freitas, professora de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenadora do GT Mídia, Gênero e Raça da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política (Compolítica), nos últimos anos, com os movimentos sociais, há indícios de transformação. "Neste momento, nós temos, sim, avanços, seja na imprensa comercial ou na imprensa alternativa. Eu acredito que esse movimento tem a ver com os debates que a sociedade tem colocado em pauta", afirma.
Segundo Lucy Oliveira, o processo formativo é o primeiro movimento de impacto para mudanças efetivas. "A partir do acesso ao conhecimento, é possível repensar as circunstâncias atuais das práticas cotidianas, dentro das redações, na pesquisa e na vida. A discussão de raça e de gênero é construída por movimentos e pela ciência, que provocam os campos político e social a pensar as suas demandas", acredita. Para promover a discussão sobre o papel das mídias na estruturação do racismo e da desigualdade de gênero na sociedade brasileira, a professora, em parceria com Viviane Gonçalves Freitas, criou o curso online "Jornalismo Feminista e Antirracista: Uma introdução ao debate", ofertado pela UFSCar.
O curso, ao longo de cinco encontros, busca construir pontes entre as reflexões e as pesquisas produzidas no meio acadêmico e por atores do campo da comunicação e da política com outros comunicadores, estudantes de comunicação, jornalistas e produtores de conteúdo em geral. As inscrições estão abertas até o dia 4 de maio. Em 50% das vagas, há desconto para mulheres autodeclaradas pretas, pardas, indígenas e LGBTQIAP+. Também há dez vagas gratuitas para a comunidade interna da UFSCar. Os interessados podem se inscrever pelo site https://jornalismofemi.faiufscar.com.

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