Em debate na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados,
representantes de instituições de ensino fundamental e médio defenderam o fim
das escolas cívico-militares.
Para a secretária-geral da Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Educação (CNTE), Fátima Silva, a presença de militares nas
escolas, com sua “natureza disciplinar, de obediência e hierarquia, fere
princípios constitucionais do ensino, como a liberdade de aprender e ensinar”.
O diretor de Políticas e Diretrizes da Educação Básica do
Ministério da Educação, Alexsandro do Nascimento Santos, afirmou que o órgão já
decidiu não financiar mais o programa de escolas cívico-militares. No entanto,
ele explicou que cabe aos estados e municípios decidir o que fazer nas escolas
que já foram militarizadas.
Disparidade de remuneração
Outro problema apontado pelos participantes da audiência
pública foi a disparidade de remuneração entre os profissionais da educação e
os militares da reserva que atuam nas escolas. Conforme mostrou o diretor do
MEC, um oficial recebe entre R$ 8.343 e R$ 9.553 pela atuação na rede pública
de ensino, além do que ganha das Forças Armadas. Já a remuneração básica de um
profissional do magistério com ensino superior é de R$ 4.420.
O deputado Pedro Uczai (PT-SC), que sugeriu a realização da
audiência pública, concorda com os debatedores que pediram o fim do programa de
escolas cívico-militares. Também para o parlamentar, é fundamental separar os
debates sobre educação e segurança pública, que “é direito de todo cidadão, mas
deve ficar da porta da escola para fora”.
Para resolver os problemas da escola, na concepção de Uczai,
além de combater as desigualdades sociais, se faz necessário valorizar os
profissionais da educação.
“Pensar um pouco a construção de políticas públicas que
diminuam a desigualdade social no nosso país; e na educação integrada e
integral. Eu acredito que esse é o futuro, não é a presença de militar na
escola, para professor ter tempo de ficar em uma única escola, para que tenha
tempo para a cultura, a arte o esporte. Colocar militar na escola é, de certa
forma, nos chamar de incompetentes, que a gente não consegue lidar com o tema
educacional, social, cultural e da diversidade e pluralidade que são os
estudantes nas escolas do País”, disse o deputado.
Segundo o ex-diretor do Programa Nacional das Escolas
Cívico-Militares do MEC, Gilson Passos de Oliveira, em consulta pública com 24
mil participantes da comunidade de escolas que aderiram ao programa, 75% se
disseram satisfeitos com os resultados alcançados. Ainda conforme o ex-diretor,
houve avanços na avaliação de desempenho em 40 das 202 escolas que aderiram ao
modelo cívico-militar.
Defensora do programa, a deputada Julia Zanatta (PL-SC) perguntou sobre as pesquisas de desempenho acadêmico dos alunos. O diretor do MEC, Alexsandro Santos, respondeu que, como o modelo foi adotado em 2020, ainda não há como avaliar o desempenho dos alunos. Segundo esclareceu, o sistema de avaliação da educação básica (Saebe) é realizado no final do quinto e do nono ano do ensino fundamental e no final do ensino médio.
“Como o Pecim [programa escolar cívico-militar] começou a
ser implementado em 2020, nós não temos uma geração de alunos que tenha passado
um ciclo escolar a ponto de serem avaliados pelo Saebe. Quem diz que o programa
tem impacto na aprendizagem não está considerando essa medida, e tem que
explicar qual medida está considerando. Nós não temos, a partir da medida
oficial do Estado brasileiro, como dizer se o programa Pecim gerou ou não, por
seus méritos, melhoria do desempenho dos estudantes”, afirmou Alexsandro
Santos.
Criado por decreto presidencial em 2019, o programa nacional
de escolas cívico-militares (Pecim) foi implantado em 202 escolas de ensino
fundamental e médio a partir de 2020. O Brasil conta com 138 mil instituições
de educação básica. O pagamento das despesas decorrentes do programa sai do
orçamento da Educação.
Maria Neves / Fonte: Agência Câmara de Notícias