Docente da UFSCar é presidente de Associação Brasileira de Fisioterapia em Gerontologia e fala sobre estudos e atuação na área


O envelhecimento da população é uma tendência nos últimos anos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o número de pessoas com mais de 60 anos chegará a 2 bilhões até 2050, o que representará um quinto da população mundial. Em 2016, o Brasil tinha a quinta maior população de pessoas idosas do mundo e, em 2017, o número de pessoas idosas no País foi superior aos 30,2 milhões, a partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Organização das Nações Unidas (ONU) levanta dados sobre a expectativa de vida que apontam que, no Brasil, a expectativa em 2023 é 76,2 anos e poderá chegar a 88,2 anos em 2100. A partir dessa realidade, profissionais capacitados para lidar com as especificidades do cuidado com os idosos, com foco em autonomia e qualidade de vida, são essenciais para acompanhar essa tendência mundial da longevidade crescente. 
A Fisioterapia em Gerontologia é uma das especialidades, regulamentada recentemente no Brasil - em 20 de dezembro de 2016 pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) -, que busca promover assistência qualificada e especializada para a saúde da pessoa idosa no âmbito dos sistemas de saúde público e privado. "O fisioterapeuta especialista em Fisioterapia em Gerontologia tem uma visão integrada e ampliada das mudanças que ocorrem no processo de envelhecimento atuando na promoção, prevenção e reabilitação da saúde da pessoa idosa considerando suas potencialidades, heterogeneidade e especificidades", expõe Tiago da Silva Alexandre, docente do Departamento de Gerontologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), especialista em Fisioterapia em Gerontologia, fundador e presidente (reeleito para o segundo mandato) da Associação Brasileira de Fisioterapia em Gerontologia (ABRAFIGE).
O docente explica que, no contexto da Gerontologia, o fisioterapeuta especialista em Fisioterapia em Gerontologia é treinado para avaliar, traçar estratégias preventivas, reabilitar e dar suporte às pessoas idosas à medida que envelhecem promovendo independência, autonomia e qualidade de vida.

Campo de atuação e pesquisa
O campo de atuação desse profissional é amplo e bastante variado, desde clínicas, consultórios, atendimento domiciliar, hospitais, Instituições de Longa de Permanência, além da pesquisa. Atualmente, Alexandre relata que são 177 especialistas titulados na área pela ABRAFIGE e pelo COFFITO - aumento de 156% nos últimos dois anos - e há um vertiginoso crescimento do conhecimento científico na área da Fisioterapia em Gerontologia nos últimos anos. "Há publicações com essa temática desde 1950. Contudo, a partir de 2014 há um ponto de inflexão no número de artigos científicos publicados e, hoje, temos mais de 4.480 publicações relacionadas a essa temática, o que subsidia a área de atuação com evidências que precisam ser refletidas nas salas de aula e, consequentemente, aplicadas pelos profissionais fisioterapeutas na prática clínica", complementa o professor da UFSCar.
No DGero da Universidade, muitos estudos são desenvolvidos e, dentre eles, estão os realizados no Laboratório de Estudos em Epidemiologia do Envelhecimento (LEPEN), coordenado por Tiago Alexandre e que conta com alunos e parceiros de pesquisa que também são especialistas em Fisioterapia em Gerontologia. As pesquisas realizadas no Laboratório já mostraram fatores que aumentavam o risco de situações adversas à saúde, como a presença de obesidade abdominal, aumentando o risco de insuficiência e deficiência de vitamina D; a coexistência de sintomas depressivos e de dor articular, aumentando o risco de pior memória ao longo do tempo; a presença de obesidade abdominal associada à fraqueza muscular, aumentando o risco da lentidão da marcha; e a superproteção ou baixo nível de cuidado na infância, diminuindo a longevidade. "Ademais, os estudos observaram fatores que estão relacionados com a mortalidade em idosos, como a combinação de anemia e baixa força muscular, a combinação do acúmulo de gordura na região abdominal com fraqueza muscular e a definição de pontos de corte da força muscular para o diagnóstico de sarcopenia", complementa o docente.

Fortalecimento da área
De acordo com Alexandre, o principal desafio na área está no reduzido número de profissionais especialistas em Fisioterapia em Gerontologia, impedindo a existência de mais normativas que exijam a contratação desses profissionais em serviços especializados no atendimento da pessoa idosa. À frente da ABRAFIGE, o principal objetivo é ampliar o número de Fisioterapeutas com título de especialistas na área para atender a população idosa que está em constante crescimento e proporcionar o aprimoramento científico contínuo desses associados e titulados. "Também é fundamental articular politicamente a atuação desses profissionais, garantindo que as pessoas idosas sejam atendidas por esses especialistas tanto no sistema público como no privado, pois são eles os que melhor conhecem o processo do envelhecimento, suas repercussões e necessidades", conclui o professor.

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