“Os laboratórios estão cheios de jovens fazendo
aquilo para o qual estão destinados - ser cientistas”
Uma delegação do Russian Quantum Center (RQC),
composta por dez cientistas, visitou no dia 18 deste mês de agosto as
instalações do Grupo de Óptica do IFSC/USP, tendo sido recebida pelo
coordenador do grupo, Prof. Vanderlei Salvador Bagnato. Pela primeira vez no
Brasil e verdadeiramente interessado em todos os pormenores relativos ao funcionamento
e características dos laboratórios, o grupo de cientistas manteve diálogos com
os alunos de pós-graduação e com os pesquisadores seniores da área, tendo,
inclusive, trocado várias experiências através da realização de um seminário.
O Prof. Ruslan Yunusov, que liderou a equipe,
mostrou-se bastante impressionado com as pesquisas que são desenvolvidas no
IFSC/USP e com a quantidade de laboratórios que se encontram instalados em
nosso Instituto, particularmente aqueles que estão dedicados exclusivamente às
áreas de óptica e fotônica. “É de fato impressionante verificar a quantidade de
experimentos que estão sendo realizados aqui e com a participação ativa de
jovens pesquisadores. Na maioria dos locais onde se faz ciência e se executam
experimentos, apenas vemos grandes salas, equipamentos dos mais variados
estilos, mas esses espaços geralmente estão vazios, embora as pesquisas se
desenrolem. Aqui, não vemos isso. Vemos os laboratórios cheios de jovens
fazendo aquilo para o qual estão destinados - serem cientistas”, sublinha
Ruslan.
O objetivo da visita da delegação de cientistas
russos foi aprofundar a colaboração que existe com o IFSC/USP desde há algum
tempo, detectando quais as áreas em que eles poderão colaborar mais
intensamente em projetos de interesse comum, sendo que dentro de algum tempo
apresentarão diversas propostas para aproximar e consolidar essa colaboração
científica, onde sobressaem as áreas de física quântica, fotônica e
biofotônica, entre outras.
O que é o RQC
Criado em 2012, o Russian Quantum Center (RQC) é uma organização
de pesquisa não governamental que se dedica à realização de pesquisas fundamentais e aplicadas no campo da física e de tecnologias quânticas modernas - computação quântica,
simulação, comunicação e sensoriamento, bem como no desenvolvimento e
comercialização de novas tecnologias e dispositivos baseados em efeitos
quânticos.
Localizado nas imediações de Moscou, o RQC congrega doze laboratórios, empregando mais de 170 pesquisadores,
assumindo-se como um
centro de ciência e tecnologia sem fins lucrativos exclusivo para a Rússia, tendo assumido, em pouco tempo, uma posição de liderança, inclusive mundial, em seu campo de pesquisa. Os destaques científicos do RQC, que germinaram no início deste
século, dizem respeito a sensores supersensíveis, fotomultiplicadores de estado sólido, lasers de
femtossegundos, cardiógrafos magnéticos supersensíveis e outros – destinados
aos setores financeiro, de telecomunicações, saúde e outros. O principal
desenvolvimento em curso é um sistema de comunicação quântica para
transmissão de dados completamente segura nos setores bancário, governamental e
outros.
Conceitos básicos da colaboração com o RQC
De fato, o IFSC/USP vem colaborando há cerca de vinte anos com os
cientistas da Federação Russa em múltiplos aspectos relacionados com a ciência
fundamental, incluindo as ciências quânticas. Muitos cientistas russos têm
visitado e permanecido algum tempo no nosso Instituto, sendo que dessas
interações resultaram muitos trabalhos relevantes, comprovando, assim, essa
tradição de colaboração.
Para o Prof. Vanderlei Bagnato, que acompanhou a visita da delegação
russa, o RQC de Moscou foi criado exatamente porque já se visualiza uma nova
revolução científica baseada em conceitos que só agora se estão consolidando
como possíveis de serem aplicados diretamente em problemas relevantes. “Nós
tivemos o avanço do conhecimento na mecânica, exatamente com a designada
Revolução Industrial e com ela o conceito da conversão da energia: nascia, então,
a máquina a vapor. As máquinas deixaram de ser abastecidas através da força
humana, passando a ser geridas com o intelecto humano. Isso permitiu ao mundo
criar uma forma diferente de produção - e o mundo mudou”, enfatiza Bagnato.
O mundo unido a caminho de uma nova revolução científica
O caminho da ciência não parou, muito pelo contrário, aumentou sua
velocidade, já que na esteira dessa Revolução Industrial aconteceu o evento da
eletricidade, que estava “preso” nas mãos dos cientistas. Em poucos anos ele
começou a fazer parte do cotidiano das sociedades, reforçando assim o campo
dessa mudança, acabando por emendar com a outra revolução que se seguiu, que
foi a Revolução da Eletrônica, que ainda a estamos vivendo. “Normalmente, uma
revolução científica acontece quando as pessoas têm conhecimento suficiente de
uma área para depois a disseminarem. A mecânica quântica era um conceito que
era importante ser entendido para mudar a concepção de certas tecnologias -
GPS, relógio atômico, computação quântica, novos sensores de gravimetria de
campo magnético, etc.. Então, estamos no limiar de uma nova revolução - a
Revolução Quântica - e para que ela seja bem sucedida, para que não tenha
problemas, é necessário que haja um entrelaçamento de competências no mundo todo,
para que não existam países que fiquem à margem dela. Você tem centros de
pesquisa quântica na Europa, nos Estados Unidos, na Rússia e na China, só para
dar alguns exemplos, enquanto no Brasil ainda estamos bem devagar, motivo pelo
qual devemos aprofundar relações com esses centros que estão evoluindo
rapidamente. A vinda da delegação de cientistas russos foi exatamente para
estreitar os laços que permitam a participação de todo o mundo em algo que irá
despontar com uma nova tecnologia que deverá estar disponível para todos, sem
excepção, num contexto global”, afirma Vanderlei Bagnato.
Uma colaboração com todos os centros de pesquisa independente de sua
origem
“Sendo que a base da vida é atômica e molecular, são os desvios nesse
nível que têm consequências no mundo macroscópico”, pondera Vanderlei Bagnato,
reforçando a necessidade de, com esses conceitos, por exemplo, se começar a
entender as bases das doenças em nível molecular para se poder atuar de forma
pioneira. “Iremos colaborar com todos os centros de pesquisa, independente de
sua origem, para globalizar esses conceitos. O RQC, por exemplo, já se prepara
para enviar pesquisadores para colaborarem em trabalhos aqui, no IFSC/USP”,
conclui Bagnato.
A ciência quântica não é só tecnologia, já que existem desafios muito
grandes em diversas áreas, como, por exemplo, na saúde e em materiais. Segundo
Bagnato, o importante é que existe a necessidade de se chegar a esse nível de
entendimento para que diversas perguntas possam ser respondidas. Porque é que
evoluímos da forma como aconteceu até agora?... Porque é que a espécie humana é
da forma como se apresenta?... Podemos prolongar mais a vida do ser humano?..
Como?...