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Palavra de origem quimbundo, cacunda significa a curvatura acentuada nas costas, geralmente acometida como consequência da idade, abaulando o corpo. Nos terreiros, cacunda é Cacurucaia, entidade mais velha na seara da umbanda. Cacurucaia, mulher velha e ranzinza, é poeira que baila na curva do tempo, riscando seu ponto num encontro entre passado-presente-continuidade, aplacando a bonança e infortúnio para aqueles que a procuram.
Cacunda é uma dança que mobiliza o tempo e suas curvas, questionando e celebrando o peso que carrega a existência.
A construção do espetáculo tem como base os referenciais bibliográficos e simbologias afrodiaspóricas ligadas ao tempo e a memória, entendendo-a como construção social e coletiva, alteada na capacidade humana da recordação e do esquecimento.
A memória, cordão que gesta e delineia as curvas espiraladas do tempo, quando em culto, é responsável pela ancestralização de antepassados, firmando-se eco de existências antigas.
Narrativa de músculos, Cacunda, em escrevivências de arquejo, tem como arrumo as dobras e profundidades do livro “Um defeito de cor”, de Ana Maria Gonçalves. Para além, o trabalho tem como fio condutor, dramatúrgico, muscular e esquelético o álbum “Padê” de Juçara Marçal e Kiko Dinucci.
“Padê”, álbum lançado em 2018, apresenta, com maestria, uma constante reatualização do que se pode entender por afro diáspora no Brasil: uma celebração frente a teimosa existência, mas nunca se esquecendo de onde se veio e como se deu, num constante baile entre princípio, permanência e eternidade. “Padê”, segundo nossa interpretação, faz alusão à palavra “Ipadê”. “Ipadê”, em uma perspectiva nagô de terreiro, significa “encontro”.
Um rito, dentro da comunidade, assentado enquanto um “encontro da ancestralidade”, comandado especificamente por mulheres. Ele, que antecede às grandes festividades do terreiro (vale ressaltar que só acontece vide a existência de ritos anteriores), reverência ancestrais primordiais, como Exu e as Grandes Mães Ancestrais, bem como os Ancestrais daquela comunidade de terreiro.
Ipadê, firmamento da existência do agora e de outrora, atua como operador das sobreposições das temporalidades, num constante movimento entre passado, presente e continuidade em que se dança com as costas abauladas.
Sinopse
(espetáculo solo, com execução de música ao vivo)
Cacunda, palavra de origem quimbundo, substantiva a curvatura acentuada nas costas, geralmente acometida como consequência da idade, abaulando o corpo. Dorso. É aquela que protege, dá abrigo, proteção. Dor. Lê-se como quem lança pragas, desejando o mal pelas costas. Nos terreiros, cacunda é Cacurucaia, entidade mais velha na seara da umbanda. Cacurucaia, mulher velha e ranzinza, é poeira que baila na curva do tempo, riscando seu ponto num encontro entre passado-presente-continuidade, aplacando a bonança e infortúnio para aqueles que a procuram. Cacunda é uma dança que mobiliza o tempo e suas curvas, questionando e celebrando o peso que carrega a existência.
Cacunda, o que carregamos nas costas?
https://www.youtube.com/watch?v=9lg6DUKxTLY
Ficha técnica
Criação e interpretação: Adnã Ionara
Direção cênica: Adnã Ionara e José Teixeira
Provocação cênica: José Teixeira
Composição e execução de trilha musical: Yandara Pimentel, Otavio Andrade e Marcelo Santhu
Design e operação de luz: Karen Mezza
Operação de som: Pedro Flório
Produção Executiva: Wannyse Zivko (Arte & Efeito)
Serviço:
Data: dia 16 de maio, hoje.
Horário: 20h.
Ingressos: Grátis. Lugares Limitados. Livre
Local: Unidade São Carlos – Av. Comendador Alfredo Maffei, 700 – Jd. Gibertoni – São Carlos – SP
Mais informações pelo telefone: 3373-2333
foto: Foto-Beto Assembaixa