Com aumento de mensalidades escolares, famílias mudam rotina e abrem mão de plano de saúde


Nos últimos três anos o reajuste acumulado no valor da mensalidade escolar nas três fases de ensino: infantil, fundamental e médio, chegou a 27% – que significa 11,6 pontos percentuais acima da inflação que n mesmo período foi de 15,6%. Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas, o maior reajuste foi registrado em 2023, com uma alta de 9% das mensalidades – quase o dobro da inflação registrada no ano.

Para 2025, a previsão é de que as mensalidades subam de 8 a 10%, de novo acima da inflação esperada para o fim deste ano que é de 4,3%.

Na contramão das mensalidades, os salários, no entanto, não acompanham o mesmo ritmo. E com material didático, uniforme e outras despesas, fica ainda mais difícil manter os filhos na rede privada. O advogado Thiago Souza tem três filhos que estudam em escola particular. Em 2022, ele teve que abrir mão do plano de saúde para conseguir pagar os estudos dos filhos. Agora, ele está se mudando para uma casa mais próxima da escola para economizar também no combustível.

“Nós optamos em sacrificar o plano de saúde para que eles permanecessem na escola particular. Então hoje em dia quando tem uma necessidade médica, a gente paga uma consulta particular. Eu estou mudando de residência, estou indo pra um local mais próximo da escola para poder economizar na questão do transporte. Eu levo e busco porque se fosse pra pagar van ficaria fora da realidade.”

A administradora Cleide Alves tem uma filha de nove anos em uma escola particular e passa pelo mesmo aperto. Já prevendo o novo reajuste para 2025, ela disse que vai ter que cortar gastos de lazer para dar conta das mensalidades

“Na verdade, a gente não consegue. Você tem que reduzir uma saída, uma compra, alguma coisa vai ter que reduzir porque o meu salário não vai aumentar. Então eu vou ter que reduzir o impacto de algum material ou de alguma saída com a criança, ou roupa, ou calçado, ou deixar mais prioritário ali o remédio.”

O filho do policial aposentado Clênio Gonçalves vai para o primeiro ano do ensino médio. O pai prevê que além da mensalidade, vai gastar mais com os livros voltados para o vestibular. Ele diz que a família tem economizado até na alimentação:

“A defasagem no salário é muito grande. Tem que começar a contar gastos. Pega muito no lazer e hoje também em termo de pedir uma comida no Ifood e essas coisas, hoje nós estamos cortando. Deixando o carro mais um pouco na garagem. Vai ao mercado vai de carro, agora não. Mercado aqui, apesar de não ser muito próximo, vamos andando.”

Bruna Marques também tem um filho no nono ano e uma enteada no quarto ano do fundamental, que estudam na mesma escola. Por causa dos reajustes, foi preciso diminuir gastos na rotina da família para manter as crianças na escola particular, o que é uma prioridade para os pais.

“Isso impacta no nosso orçamento mensal, não tem jeito. Mas aí o que a gente diminuiu? A gente tinha dois carros, agora a gente só tem um carro pra diminuir gasolina, pra diminuir imposto, pra diminuir seguro. As saídas do fim de semana já tinham diminuído pra duas por mês, agora a gente vai começar a colocar só uma. Comer fora, já tá bem escasso essa possibilidade.”

O economista da FGV, Matheus Dias, diz que para os pais a educação dos filhos não é encarada como gasto, mas como investimento. Ele diz ainda que é válido o pai ir até a escola para negociar um desconto:

“Os pais encaram a educação como um investimento a longo prazo e isso vai sendo acumulado ao longo do tempo. Diálogo é sempre válido e se os pais observam um bom desempenho do filho benéfica para as duas partes, então cabe, sim, a negociação.”

Em nota, a Federação Nacional das Escolas Particulares, disse que as instituições têm autonomia para definir os valores das mensalidades levando em consideração a inflação do período, os investimentos feitos pela escola e o reajuste dos salários dos professores.

Ana Carolina Tomé / CNN

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