Após quase dobrar de tamanho em doze meses, o mercado do e-commerce paulista encolheu pela primeira vez em sete anos, com queda de 1,6% entre 2022 e 2023, movimentando R$ 67 bilhões ante R$ 68,1 bilhões no ano anterior, segundo dados de um grande estudo sobre o setor produzido pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), com divulgação do Sindicato do Comércio Varejista de São Carlos e Região (Sincomercio).
Na análise da Entidade, alguns aspectos econômicos impediram a manutenção da sequência de altas, iniciada em 2016 — desde a conjuntura econômica, marcada pela inadimplência (24% das famílias da capital do estado conviveram com contas atrasadas no primeiro semestre de 2023) aos juros altos, que encareceram a tomada de crédito pelos consumidores.
Ainda assim, os dados são positivos: desde 2021, as vendas do comércio eletrônico no estado de São Paulo estão acima da casa dos R$ 60 bilhões, sustentando o nível alcançado durante a crise sanitária, quando o varejo como um todo precisou se deslocar com mais força para o universo online.
O levantamento da FecomercioSP ainda mostra que o estado é o maior mercado consumidor de produtos no setor, assim como é de onde sai a maior parte das vendas para outras unidades federativas, levando em conta apenas transações realizadas por empresas sediadas no Brasil e entre empresas e consumidores. Em 2023, 32% de toda a movimentação do setor, em nível nacional, foi realizada em São Paulo. Em outras palavras, de cada R$ 100 que circularam pelo comércio eletrônico do País, R$ 33 passaram pelo mercado consumidor paulista.
Da mesma forma, São Paulo é o maior emissor de produtos comprados online no País, em uma posição ainda mais determinante: um a cada dois itens intercambiados no e-commerce brasileiro sai do estado. Em termos porcentuais, esse volume chega a 48,5%.
O estudo foi produzido com base em uma série de relatórios de transações de notas fiscais do Observatório do Comércio Eletrônico Nacional — ligado ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Serviços e Comércio (MDIC) —, no IBGE e em números coletados pela própria FecomercioSP.
PARTICIPAÇÃO EM RELAÇÃO AO VAREJO FÍSICO CAI
No cenário nacional, o e-commerce se estabilizou, mas em São Paulo perdeu espaço em 2023. Segundo a FecomercioSP, a participação do setor caiu 0,3 ponto porcentual (p.p.) — de 6,2%, em 2022, para 5,9%.
Para a FecomercioSP, esse fato se explica não apenas pela conjuntura, mas também pela própria elevação do varejo físico paulista nesse período. O setor vem sendo bastante estimulado pela renda do Agronegócio, que, em 2023, registrou safras recordes em várias culturas, como a do açúcar.
Ainda assim, os números indicam uma estabilidade da posição alcançada pelo comércio eletrônico durante a pandemia de covid-19. Fatores que, antes, exerciam um papel decisivo no reforço da preferência dos consumidores pelo varejo físico — como o longo prazo de entrega dos produtos comprados online, a insegurança em disponibilizar dados bancários na internet e o próprio acesso da população à modalidade do cartão de crédito — foram superados. As empresas do e-commerce diminuíram substancialmente esses intervalos logísticos, às vezes entregando os itens no mesmo dia da compra, e criaram estruturas financeiras mais confiáveis para pagamentos. Em paralelo, o cartão assumiu lugar importante no orçamento das famílias brasileiras.
DINHEIRO DE DENTRO E DE FORA
O estudo da FecomercioSP ainda aponta que, dos R$ 67 bilhões das compras online realizadas pelos paulistas em 2023, grande parte (65,8%) diz respeito ao consumo interno, isto é, do próprio Estado. São R$ 44,1 bilhões em vendas feitas por empresas paulistas para consumidores também paulistas. Com isso, sobra um espaço de 34,2% (ou R$ 22,9 bilhões, em 2023) para transações com outros Estados — a chamada operação interestadual.
Dito de outra forma, como São Paulo é o maior mercado consumidor do e-commerce brasileiro, é relevante estar localizado perto da região para alavancar as vendas do setor. É o que explica a posição de Minas Gerais no ranking, por exemplo: além de ter o segundo maior mercado consumidor online do País, com 11,3% de participação nas movimentações, as empresas do comércio eletrônico estabelecidas no Estado mineiro venderam um total de R$ 7,2 bilhões para os paulistas, no ano passado. Espírito Santo (R$ 4,5 bilhões) e Santa Catarina (R$ 3,7 bilhões) completam a lista.
E, assim como no restante do Brasil, o smartphone é o produto campeão de vendas em São Paulo. No ano passado, foram R$ 3,2 bilhões em compras só desse tipo de item, seguindo pelos livros e impressos semelhantes (R$ 1,7 bilhão), pelas geladeiras (R$ 1,6 bilhão) e pelos computadores (R$ 1,3 bilhão).
A FecomercioSP vem trabalhando para ajudar empreendedores atuantes no universo online a ampliar os canais de venda, por meio de orientações de como estruturar e-commerces e uma série de guias sobre formas de administrar, gerenciar e manejar fluxos de estoques e de caixas. Levando em conta que boa parte dos negócios do comércio eletrônico é formada por Pequenas e Médias Empresas (PMEs), esse é um assunto prioritário na agenda da Entidade.