
https://www.fuxicogospel.com.br/ Por Caio Rangel • Publicado em 09/06/2025
A Igreja Mundial do Poder de Deus, liderada pelo apóstolo Valdemiro Santiago, enfrenta mais um capítulo turbulento em sua trajetória: a Justiça determinou o despejo da instituição de um imóvel localizado em Santo Amaro, na zona sul da capital paulista.
O espaço, com impressionantes 46 mil metros quadrados e capacidade para abrigar até 20 mil pessoas, foi alvo de uma ordem judicial emitida pela Justiça do Pará, após a constatação de uma dívida superior a R$ 4,1 milhões, referente a aluguéis atrasados, encargos e correções.
O prazo concedido para a desocupação voluntária do imóvel era de 15 dias a partir da intimação judicial. No entanto, esse período expirou na última sexta-feira, 30 de maio, e agora a Justiça de São Paulo deve ser acionada para cumprir a decisão e efetivar o despejo de forma forçada, se necessário.
A origem do imbróglio envolve a própria história do imóvel, que já pertenceu à Igreja Mundial, mas foi transferido à empresa SM Comunicações em setembro de 2022 como parte de um acordo para quitação de dívidas. Em seguida, foi assinado um contrato de locação por 18 meses, com valor mensal de R$ 600 mil — acordo que, segundo os autos, não foi integralmente cumprido pela instituição religiosa.
Posteriormente, o imóvel foi novamente repassado, dessa vez à empresa Miranda Participações, também sediada em Belém, no Pará, o que levou o processo a tramitar na Justiça paraense. A decisão foi assinada pela juíza Vanessa Ramos Couto, da 1ª Vara Cível e Empresarial de Belém.
Nos documentos do processo, a Igreja Mundial contesta a legalidade da transferência da propriedade e afirma que houve “pressão psicológica” no momento da assinatura do contrato. Alega ainda que o local não é apenas um templo, mas também funciona como residência pastoral, abrigando cerca de 15 famílias. Em sua defesa, sustenta que a desocupação do espaço afetaria atividades religiosas e comprometeria o bem-estar de seus membros.
Embora a primeira ordem de despejo tenha sido emitida ainda em outubro de 2024, a igreja vinha conseguindo protelar a execução por meio de recursos e suspensões judiciais — em dois momentos, inclusive, conseguiu estender o processo por 180 dias.
Contudo, essa não é a única batalha jurídica da instituição. Acusada de repetir o mesmo padrão de inadimplência, a Igreja Mundial acumula centenas de processos por falta de pagamento de aluguéis. Só no estado de São Paulo, já são 686 ações registradas contra a entidade, conforme apuração do portal UOL.
As pendências financeiras da instituição também se estendem à esfera federal. De acordo com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), a igreja possui uma dívida ativa de R$ 480 milhões com a União, somando débitos tributários, previdenciários e trabalhistas. Entre os principais valores, destacam-se:
Dívidas tributárias diversas: R$ 192,1 milhões
Débitos previdenciários: R$ 278,5 milhões
Multas trabalhistas: R$ 1,6 milhão
FGTS em atraso: R$ 7,2 milhões
Em junho de 2022, em uma tentativa de negociar parte desses valores, a igreja chegou a oferecer como garantia a sede localizada no Brás, também em São Paulo.
Enquanto a instituição enfrenta uma avalanche de cobranças e decisões judiciais, cresce a pressão sobre sua liderança, especialmente sobre Valdemiro Santiago, que também figura como réu em diversos processos relacionados às finanças da igreja. A crise, que antes parecia apenas administrativa, agora ameaça diretamente a estrutura física e a continuidade das atividades da denominação em uma de suas principais bases.