A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) divulgou os resultados preliminares do Prêmio Capes de Tese 2024, com as melhores teses defendidas em 2023. A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) foi agraciada com duas premiações e uma menção honrosa.

Na área de Química, o prêmio foi para o trabalho intitulado "Desenvolvimento de um magnetoimunoensaio microfluído com detecção eletroquímica para diagnóstico de hanseníase", de Sthéfane Valle de Almeida, pelo Programa de Pós-Graduação em Química (PPGQ), com orientação de Ronaldo Censi Faria, docente no Departamento de Química (DQ), e coorientação de Juliana Ferreira de Moura, docente no Departamento de Patologia Básica da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

O estudo desenvolveu um método para detecção de anticorpos relacionados à hanseníase, visando facilitar a identificação de casos positivos. A pesquisa também conseguiu diferenciar os pacientes com hanseníase multibacilar (que apresentam maior carga de bacilos e mais sintomas) daqueles com hanseníase paucibacilar (menos bacilos e menos sintomas). Isso permite não só a detecção da doença, mas também sua classificação, algo importante para a orientação do tratamento.

Almeida destaca o fato de o trabalho abordar uma doença negligenciada. "Embora seja antiga, a hanseníase ainda é um problema de saúde pública, especialmente no Brasil, que ocupa o segundo lugar mundial com maior número de novos casos. Esse reconhecimento reforça a importância de aprofundar os estudos sobre a doença", avalia a pesquisadora.

Segundo o orientador, Faria, a perspectiva é avançar nos testes para disponibilizar o método no Sistema Único de Saúde (SUS), em parceria com o Ministério da Saúde.

Mais informações sobre o estudo podem ser conferidas em matéria no Portal da UFSCar (www.ufscar.br/noticia?codigo=14098).

Na área de Educação Física, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, foi premiada a tese "Manifesto Negro: experiências negras da formação à prática em terapia ocupacional", de Alekin Ambrosio, pelo Programa de Pós-Graduação em Terapia Ocupacional (PPGTO), sob orientação de Carla Regina Silva, docente no Departamento de Terapia Ocupacional (DTO). O estudo investigou o impacto do racismo na formação de terapeutas ocupacionais negras e negros.

"A pesquisa teve uma composição metodológica que possibilitou confirmar a importância das ações afirmativas para o ingresso de pessoas negras no Ensino Superior, e também apresentar um cenário muito ruim de permanência e violência racial que ainda precisa ser enfrentado nos contextos universitários, em múltiplas camadas: institucional, relacional, interpessoal", sintetiza Ambrosio. Também desenvolveu o conceito de "racismo rizomático", ferramenta proposta para analisar a composição daquilo que se entende como racismo estrutural, racismo institucional, racismo interpessoal e racismo cotidiano, de forma interligada e indissociável.

Para a orientadora, Carla Silva, a tese soma qualidades essenciais em um trabalho acadêmico: "rigor metodológico, referencial conceitual qualificado e bem articulado e respostas às demandas urgentes da sociedade, apresentando caminhos de combate à luta antirracista".

Por fim, a menção honrosa foi concedida à tese "Design de ligas multicomponentes do sistema Ti-V-Nb-M (M = Cr, Co E Ni) para armazenagem de hidrogênio", da área de Engenharias II, e autoria de Bruno Hessel Silva. Desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais (PPGCEM), teve orientação de Guilherme Zepon, docente no Departamento de Engenharia de Materiais (DEMa). O estudo foca no desenvolvimento de materiais capazes de armazenar hidrogênio de forma segura, algo essencial para torná-lo mais atrativo em aplicações no setor de energia. 

"Alguns metais e ligas conseguem armazenar hidrogênio em pequenos volumes, o que gera um grande interesse no desenvolvimento desses materiais. Entretanto, otimizar a composição química (quantidade de cada elemento metálico na liga) é uma tarefa complexa para ligas que contém vários elementos metálicos (ligas multicomponentes)", explica Hessel Silva. 

Na tese, foram exploradas ferramentas e modelos computacionais para prever as características dessas ligas e calcular em quais condições de pressão e temperatura elas armazenariam hidrogênio de forma mais eficiente. "Isso nos permitiu diminuir tempo, energia, matéria-prima e outros recursos necessários para sintetizar ligas com boa performance em diferentes tipos de aplicações", detalha.

O orientador, Zepon, destaca que o projeto traz avanços significativos no desenvolvimento de soluções tecnológicas para o armazenamento e transporte de hidrogênio de baixa emissão de carbono, contribuindo para o enfrentamento de problemas atuais, como as mudanças climáticas.

Reconhecimento

Pedro Fadini, Pró-Reitor de Pesquisa da UFSCar, ressalta a importância desse reconhecimento para a Universidade. "Receber o Prêmio Capes de Tese é motivo de orgulho e evidencia a contribuição da Universidade para o avanço da Ciência e para a melhoria da qualidade de vida da população. As teses laureadas reforçam a qualidade de nossas pesquisas em campos essenciais como Saúde, Tecnologia e Inclusão Social".

Em relação às áreas da UFSCar agraciadas pelo Prêmio, Rodrigo Constante Martins, Pró-Reitor de Pós-Graduação da Instituição, atribui ao fato de os programas manterem a excelência ao longo dos anos. "O PPGCEM, pioneiro no Brasil, acaba de completar 45 anos; o PPGTO foi um dos primeiros da área no País; e o PPGQ, com seus 44 anos, se mantém entre os principais centros de pesquisa em Química. Essas premiações demonstram a força da nossa pós-graduação e o impacto dos programas inovadores que desenvolvemos ao longo dos anos."

Os orientadores enfatizam fatores que perpassam as distinções: além da dedicação e formação sólida dos estudantes, a infraestrutura e o bom desempenho dos programas de pós-graduação da UFSCar e a troca de conhecimentos com pesquisadores de diferentes áreas e países.

"O DEMa possui um parque de equipamentos de nível internacional, o que nos permite realizar pesquisa de ponta. Isso é resultado do trabalho árduo das pessoas que compõem o Departamento e o Programa que, ao longo de sua história, contribuíram para montar a infraestrutura disponível hoje", exemplifica Zepon.

"Este prêmio é inédito para o PPGQ e mostra a importância de estudos interdisciplinares, que demandam esforços maiores. No caso da nossa pesquisa sobre o diagnóstico da hanseníase, integramos áreas como Química, Saúde, Biologia e Farmácia, essenciais para o avanço do conhecimento", conclui Faria.

Por fim, Carla Regina Silva avalia que a distinção reforça a confiança na trajetória de qualidade do PPGTO. "Sendo um dos primeiros programas da área a serem criados no Brasil e na América Latina, nos consolidamos como referência nacional e internacional. Isso amplia não apenas nossa visibilidade, mas também a relevância e o impacto das pesquisas desenvolvidas aqui", destaca. 

A lista completa com os resultados preliminares do Prêmio Capes de Tese 2024 pode ser conferida em https://bit.ly/3XkOLFe.

Sobre o Prêmio Capes de Tese

Criado em 2005 e entregue pela primeira vez em 2006, o Prêmio Capes de Tese reconhece os melhores trabalhos de conclusão de doutorado defendidos em programas de pós-graduação brasileiros de acordo com os seguintes critérios: originalidade do trabalho, relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural, social e de inovação e o valor agregado pelo sistema educacional ao candidato.

Os autores das teses selecionadas receberão bolsa de até um ano para estágio pós-doutoral em instituição nacional, certificado e medalha. Os orientadores ganharão um prêmio no valor de até R$ 3 mil, além de certificado, oferecido também aos coorientadores e aos programas de pós-graduação nos quais os trabalhos foram defendidos.

A solenidade de entrega ocorrerá em dezembro. Mais informações estão disponíveis no site da iniciativa (https://www.gov.br/capes/pt-br/assuntos/premios/premio-capes-de-tese).

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